Jorge
Vicente
Traducción al español: Federico Rivero Scarani
1.
a
vida é esse corpo incondicional de
gente,
essa
massa humana - informe, húmida,
ancestral
-
essa
fome, instinto, desejo, corporeidade
profunda
esse
tudo e essa plena ânsia de ser e de
viver
essa
arte maior - santificar no chão a própria
existência.
a
vida é esse inacabar de limites,
prometer
mais que a mim mesmo,
amar,
romper, escrever - desejar e criar um
texto
sem hierarquias.
a
vida é pulsão incondicional
alimento
do fogo interior
nascência
permanente,
escrita
mística de um texto
aberto
à orgia.
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MAREA
1
la
vida es ese cuerpo incondicional de
gente,
esa
masa humana – informe,
húmeda,
ancestral
–
esa
hambre, instinto, deseo,
corporeidad
profunda
ese
todo y esa ansia plena de ser e
de
vivir.
ese
arte mayor – santificar en el suelo
la
propia existencia.
la
vida es ese inacabar de límites,
prometer
más que a mí mismo,
amar,
romper, escribir – desear
y
crear un texto sin jerarquías.
la
vida es pulso incondicional
alimento
del fuego interior
nacimiento
permanente,
escritura
mística de un texto
abierto
a la orgía.
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2.
perdoa,
meu amado,
a
minha ternura:
um
pouco de desejo fresco
um
rio sempre muito grande
e
braços e pernas e árvores
e
ordens amorosas de sentido
perdoa
se traí o amor a vida
e
o poema:
o
amor estreito entre duas aves
ou
entre dois corpos
ou
entre duas palavras
no
intervalo de um fruto
perdoa
se entre o dia de ontem
e
o de amanhã
naveguei
entre dois cavalos e duas
fascinantes
palavras
esta
arte da fome e da ambição
que
entre flores nos comove.
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2
perdona,
mi amado,
mi
ternura:
un
poco de deseo fresco
un
río siempre muy grande
y
brazos y piernas y árboles
y
amorosas órdenes de sentido
perdóname
si traicioné el amor la vida
y
el poema:
el
amor estrecho entre dos aves
o
entre dos cuerpos
o
entre dos palabras
en
el intervalo de un fruto
perdóname
si entre el día de ayer
y
el de mañana
navegué
entre dos caballos
y
entre dos palabras fascinantes
este
arte del hambre y de la ambición
que
entre flores nos conmueve.
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3.
água,
mas a água tem a certeza da língua
e
da violenta fome que alimenta o poema
como
se precisasse morrer
para
atravessar as palavras
água,
não volta nunca mais
para
a paixão desse imenso pássaro
que
voa em torno do rio.
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3
agua,
el agua tiene la certeza de la lengua
y
de la violenta hambre que alimenta al poema
como
si precisase morir
para
atravesar las palabras
agua,
no vuelve nunca más
para
la pasión de ese inmenso pájaro
que
vuela en torno del río.
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4
já
é madrugada
e
o meu corpo ainda não tem pele
para
suportar o teu osso,
acorda,
acorda, acorda
numa
ânsia vibrada por
centenas
de galopes,
uma
sílaba selvagem
entre
pequenas mortes
de
pele.
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4
ya
es madrugada
y
mi cuerpo aún no tiene piel
para
soportar tu hueso,
acuérdate,
acuérdate, acuérdate
en
un ansia vibrante por centenas de galopes,
una
sílaba salvaje
entre
pequeñas muertes de piel
Jorge
Vicente nasceu em 1974, em Lisboa, e desde cedo se interessou por poesia. Com
Mestrado em Ciências Documentais, tem poemas publicados em diversas antologias
literárias e revistas, participando, igualmente, nas listas de discussão Encontro
de Escritas, Amante das Leituras e CantOrfeu. Faz parte da direcção editorial
da revista online Incomunidade. Tem
cinco livros publicados, sendo o último cavalo
que passa devagar (voltad’mar: 2019).
Contacto:
jorgevicente.seacarrier@gmail.com
Parabéns, poeta Jorge Vicente!
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